Ir. Ann Regina Raterman, SFP

16 de fevereiro de 1938 – 14 de dezembro de 2015

A vida de Irmã Ann Regina traz à minha mente aquela mulher nas Escrituras que lutou por muitos anos com uma doença que não podia ser curada pelos médicos. À medida que Irmã Ann Regina foi enfraquecendo fisicamente muitas pessoas a mantiveram em suas orações, com carinho. Em seus últimos dias, nossas Irmãs mantiveram uma vigília constante, membros de sua família a visitaram, e os funcionários da Unidade Magnificat se dedicaram em oferecer a ela todo o cuidado necessário. Tendo o Divino Médico ao seu lado, Irmã Ann Regina se entregou a Deus completamente na noite de sexta-feira, 11 de dezembro de 2015, após o ter servido como Irmã Franciscana dos Pobres por 58 anos.

Theodore e Margaret (Aull) Raterman moravam na região de Price Hill, em Cincinnati, perto da Paróquia de Santa Teresa de Ávila. Tiveram três filhos: Ruth, Gerard, e Margaret Mary. Nascida no dia 16 de fevereiro de 1938, Margaret Mary frequentou a escola paroquial e graduou do ciclo secundário pela Seton High School.

Margaret Mary respondeu generosamente ao seu chamado à vida religiosa, tendo  entrado para o Convento Santa Clara das Irmãs Franciscanas dos Pobres no dia 15 de agosto de 1957. Ao ser investida com o hábito religioso, no ano seguinte, recebeu o nome de Irmã Ann Regina. Ela professou seus primeiros votos no dia 25 de agosto de 1960.

Como professa temporária, Irmã Ann Regina cursou e se formou pela Escola de Enfermagem do St. Elizabeth Hospital, em Dayton, Ohio. Ela fez parte do último grande grupo de Irmãs a fazer profissão final no dia 25 de agosto de 1965.

Durante seus primeiros anos como religiosa, Irmã Ann Regina experimentou desafios de saúde mental que se estenderam por toda a sua vida. Ao mesmo tempo, ela conseguiu realizar ministérios significativos para a Congregação com uma incrível sensibilidade pelos mais abandonados da sociedade. Era como se ela tivesse uma graça especial dada por Deus de dar forças aos debilitadoe e aos mais vulneráveis.

Depois de trabalhar por algum em hospitais da Congregação, ela foi convidada a se transferir para Nova York para atender a uma necessidade da Congregação.   Enquanto esteve em Nova York, tendo sempre um desejo ardente de servir os mais pobres, ela procurou Dorothy Day*, que estava ministrando a homens sem-teto na Joseph House, da organização The Catholic Worker. Dorothy estava mesmo rezando para ter uma enfermeira em sua equipe e recebeu com alegria a oferta de Irmã Ann Regina para trabalhar como voluntária. Depois de passar um tempo ministrando com Dorothy e absorvendo a filosofia de serviço do Movimento dos Trabalhadores Católicos, as duas começaram a notar que mais e mais mulheres estavam lutando para sobreviver pelas ruas, o que deu origam à Mary House para mulheres sem-teto. A experiência de Irmã Ann Regina a levou a propor que um ministério semelhante fosse estabelecido pela nossa Congregação.
 
Em 1977, a Congregação iniciou um ministério para as mulheres na Paróquia de São Pio V, em Nova York. Um grupo de Irmãs conduzido por Irmã Ann Regina formou uma pequena comunidade intencional, passando a viver com essas mulheres no mesmo local. Irmã Ann Regina queria ardentemente viver a pobreza de São Francisco e por isso essa comunidade dependia grandemente de doações para testemunhar uma profunda simplicidade. Este foi o primeiro esforço da nossa Congregação para ajudar a aliviar a falta de moradia para mulheres.

No início de 1980, os Frades Franciscanos da Província Santo Nome se aproximara da nossa Congregação pedindo para considerarmos a possibilidade de servir em um novo ministério para as mulheres sem-teto em Nova Jersey, chamado Anthony House. Impulsionada pelo seu ardor, pela sua experiência e pelo seu amor a esse tipo de ministério, Irmã Ann Regina, se juntou às Irmãs que o iniciaram. Estes dois ministérios de evangelismo para os sem-teto eram o sonho realizado de Irmã Ann Regina em ser uma irmã para os mais necessitados.

Em 1989 ela começou a experimentar sua própria vulnerabilidade com a saúde mental e voltou para Ohio. Durante um certo período de tempo ela foi assistida, como necessário, no Centro de Serviço Social São Rafael e, em seguida, passou a residir na Comunidade Franciscan Apostles, em Hamilton. Quando piorou de saúde, ela precisou receber cuidados mais especiais e a Congregação não mediu esforços para atender suas necessidades de várias mudanças ao longo dos anos.

Com a abertura da Unidade Magnificat no Convento Santa Clara, em 2013, Irmã Ann Regina fez grandes progressos graças ao carinho das pessoas que a rodeavam. Logo ficou muito claro para todas as que assistiram às suas necessidades que Irmã Ann Regina era realmente uma mulher que seguia Jesus de todo o seu coração, desejando tocar a borla do seu manto para se curar e curar o próximo.

Irmã Ann Regina, agradecemos a você pelo testemunho evangélico de sua vida de total dedicação aos mais vulneráveis da nossa sociedade. Sabemos que você recebe agora a recompensa que lhe foi prometida no momento da sua profissão: a plenitude, na presença de Deus, para sempre.

Irmã Arleen Bourquin, SFP


Dorothy Day (1887-1980) jornalista americana que relatou sua conversão ao catolicismo no livro The Long Loneliness (a longa solidão), fundou o jornal The Catholic Worker com Peter Maurin, e diversas Mary House e Joseph House para abrigar pessoas sem-teto. Politicamente radical, costumava participar de manifestações pacifistas, tendo sido presa em atos de desobediência civil. Papa Francisco a incluiu com Abraham Lincoln, Martin Luther King Jr. e Thomas Merton entre americanos exemplares quando falou ao Congresso Americano em 2015. A causa de sua canonização encontra-se em processo, no Vaticano.


Seguem-se alguns depoimentos de nossas Irmãs que se recordam de Irmã Ann Regina com muito carinho:

Irmã Ann Regina Raterman (Annie) foi e é uma amiga muito querida. Convivi  com ela no abrigo para mulheres sem-teto e suas crianças gestido pela nossa Congregação em Jamaica, Queens, na periferia de Nova Iorque. Annie tinha uma relação muito profunda com Deus. Certo dia, estávamos em Manhattan, caminhando para o metrô, para retornar ao abrigo quando, de repente, Annie parou e me disse: “Jacinta, eu tenho que me sentar.”  Estava muito pálida. Perguntei: “Annie o que aconteceu?” Ela disse: “Vi Jesus naquele pobre que acabou de passar por aqui.”  Sua experiência foi tão profunda que até eu participei, de maneira vicária. Nós duas ficamos ali sentadas num banco, até que conseguimos continuar caminhando para pegar o metrô. – Irmã Mary Jacinta Doyle

“Agradeço a Deus pela vida de Ir. Ann Regina, pelo carinho e atenção que ela deu à nossa Congregação durante toda a sua vida, sobretudo sua dedicação às Irmãs. Me recordo numa ocasião que estive na Itália que ela nos acolheu com muita atenção e carinho.” –  Irmã Maria Bernadete Batista

“Agradeço a Deus pelo dom da vida de Ir. Ann Regina. Tive a graça de conhecê-la pessoalmente.  Era uma Irmã muito alegre e acolhedora. Tinha grande facilidade para se comunicar com as pessoas. Quando a encontrei, na Itália,  por ocasião da Beatificação da Bem Aventurada Francisca Schervier, nos comunicamos muito bem, apesar da barreira linguística.  A sua alegria me marcou para sempre. Que Deus a acolha no seu Reino Celestial.” –  Irmã Maria Teresinha de Jesus

“Gratidão é a palavra que tenho a dizer sobre Irmã Ann Regina, que doou a sua vida por inteiro aos pobres e à nossa Congregação. Com certeza, por onde ela passou, deixou aos outros o seu perfume benfazejo, que durará por toda a eternidade.” –  Irmã Lécia José da Silva

Em Cincinnati, no verão de 2011, Irmã Ann Regina me recebeu cheia de alegria, cantando uma canção italiana para me dar as boas vindas:  “O sole mio!” que ela havia aprendido quando morava na Itália, Como sou grata ao Senhor pelo dom de Irmã Ann Regina, seu sorriso alegre e sua bondade. – Irmã Marina Triglia