9 de setembro de 1925 – 21 de outubro de 2015
Quando uma jovem entra pelas portas de um convento com o desejo persistente de dedicar sua vida ao Senhor, ela o faz com fé, confiante que é recíproco o amor entre ela e o seu Deus. Ainda em tenra idade, Irmã Therese Martin começou a procurar, com muita convicção, realizar sua vocação religiosa. Concluindo a sua caminhada como Irmã Franciscana dos Pobres, e sua vida consagrada de setenta e três anos e meio, ela ascendeu à vida eterna no dia 21 de outubro de 2015. O desejo de Irmã Therese Martin de estar com Deus por toda a eternidade se tornou perceptível na facilidade com que ela se entregou fisicamente nas mãos do seu Criador.
Martin Hessler e Agnes Mauntel se uniram em matrimônio para criar uma família imbuída na fé católica de seus antepassados. Estabelecendo seu lar em Mount Healthy, uma cidadezinha próxima de Cincinnati, Ohio, tiveram quatro filhas. A mais nova, Martha Frances, nasceu em casa, no dia 9 de setembro de 1925. A família era muito ativa na Paróquia da Assunção, em cuja escola primária as meninas estudavam. Dois eventos fundamentais aconteceram na vida de Martha naquela época. O primeiro, surgiu com a pergunta que ela dirigiu a Deus no dia da sua Primeira Comunhão: “Irei me tornar uma irmã de caridade?” O segundo ocorreu cinco ou seis anos mais tarde, quando a professora organizou uma excursão de sua classe ao Convento Santa Clara, em Cincinnati, onde ela conheceu as Aspirantes e várias Irmãs. Quando ela recebeu uma carta convidando-a a considerar cursar o ensino médio como aspirante, Martha Frances pediu a seus pais que a deixassem ir para o internato da escola, em Cincinnati. O dinheiro era apertado para aquela família de seis pessoas, mas a avó paterna de Martha se ofereceu para pagar as mensalidades.
Martha se deu bem no ambiente acadêmico, sentindo, ao mesmo tempo que aumentava, cada vez mais, sua atração pela vida religiosa. Assim que completou 16 anos, ela se candidatou para a admissão à Congregação das Irmãs Franciscanas dos Pobres e foi aceita como postulante no dia 21 de janeiro de 1942. No noviciado, como era de costume, ao receber o hábito da Congregação, recebeu também o nome religioso de Irmã Therese Martin, que ela mesma escolheu, inspirada em Santa Terezinha e em seu pai, que amava muito. Concluindo o noviciado, ela fez sua primeira profissão de votos no dia 8 de setembro de 1944, um dia antes de completar dezenove anos. Como professa temporária, ela completou seu último ano do ensino médio e, em seguida, ingressou na Escola de Enfermagem do St. Elizabeth Hospital, em Dayton, Ohio, graduando-se dois anos e meio mais tarde em um programa intensivo que incluía as jovens do programa para aspirantes a enfermeira.
Depois de passar, com sucesso, o exame de licenciatura em enfermagem, Irmã Therese Martin retornou ao Convento Santa Clara para se preparar para sua Profissão Perpétua, sendo designada para ajudar nos serviços alimentares da enfermaria. Após sua profissão dos votos finais, no dia 8 de setembro de 1949, ela foi missionada ao Hospital S. Francisco, para cuidar de uma Irmã idosa e, em seguida, foi designada como supervisora da unidade feminina do hospital.
Durante esse período de tempo Irmã Therese Martin conheceu uma Técnica em Enfermagem que estava sentindo o chamada para a vida religiosa e logo fizeram amizade. Mais tarde, com o nome de Irmã Marie Timothy Smith, esta mulher tornou-se sua melhor amiga, pelo resto da vida. Mesmo tendo muito pouca experiência, Irmã Therese Martin foi logo designada como Supervisora de Enfermagem no turno da noite.
Irmã Therese Martin exerceu enfermagem por vinte anos, atuando principalmente em cargos de supervisão dos departamentos de obstetrícia de hospitais localizados em Batesville, Indiana; em Quincy, illinois; e em Kansas City, no Kansas. Ela costumava mencionar muitas vezes com grande carinho suas experiências com mulheres em seu primeiro parto. Mesmo em idade avançada, Irmã Therese Martin continuou ligada a esse ministério, orando pelas mulheres que desejavam engravidar e por nascimentos bem sucedidos.
Em muitos aspectos Irmã Therese Martin continuou a ser uma estudante durante toda a sua longa vida, tendo obtido diploma de ensino de enfermagem pela Universidade de Dayton, Ohio e feito mestrado em administração de enfermagem pela Universidade de S. João, em Jamaica, Queens, Nova York, além de concluir seu mestrado em teologia aplicada pela Escola Franciscana de Teologia, em Berkeley, Califórnia. Essa sua última experiência a levou a estender o conceito de ministério para incluir o tema do ecumenismo nas atividades da Casa da Paz Pinecroft, em Cincinnati, onde serviu por dez anos.
Irmã Therese Martin serviu como membro da equipe de Liderança da Congregação e, em seguida, foi nomeada a primeira Ministra Regional da recém-iniciada Região dos Estados Unidos, em 1992. Ela foi designada coordenadora da reforma do Convento Santa Clara, e foi Ministra Local dessa comunidade.
Irmã Therese Martin costumava falar com frequência sobre a importância da espiritualidade, que ela aprendeu sob a tutela de seus genitores, particularmente do seu pai, tendo adquirido um grande amor pela natureza graças ao exemplo dele. Martin Hessler criou uma horta e pomar para cultivar frutas e verduras frescas para suprir a mesa da família e até mesmo uma pequena vinha onde produzia uvas suficientes para fazer um delicioso vinho caseiro. Sendo muito inventivo, enxertou várias mudas de macieira, ele conseguiu produzir diversas variedades de maçã em uma única árvore. As flores no jardim da família servima para refletir beleza da criação de Deus. Martin Hessler amava os pássaros e os reconhecia pelo seu canto. Nos lembramos do interesse especial de Irmã Therese Martin pelas aves quando encontramos um livro de ornitologia entre seus pertences.
Irmã Therese Martin, enquanto nos despedimos de você, queremos agradecê-la pela sua vida tão bem vivida entre nós, pelos muitos dons que você partilhou conosco, pelo destemor com que você sempre aceitou novos desafios em sua vida, e pela sua fidelidade como Irmã Franciscana dos Pobres. Por noventa anos, voce se concentrou em desenvolver uma vida de dedicação a Deus. E nos últimos momentos de sua vida, certamente ouviu o convite de Jesus: “Venha, bendita filha do meu Pai, tomar posse do Reino que lhe preparei.” Que você repouse em paz, querida Irmã.
Irmã Arleen Bourquin, SFP
Aqui estão alguns depoimentos das nossas Irmãs, lembrando Irmã Therese Martin, com carinho:
“Irmã Therese Martin sempre foi uma pessoa acolhedora, bem disposta e pronta para me ajudar. Quando fiz cirurgia do olho, Irmã Therese me visitava todos os dias. Eu enxergava somente com o meu olho direito, o qual estava precisando de cirurgia. Ela vInha todas as manhãs e voltava à noite para orar o Santo Ofício comigo, o que eu muito apreciava. Ela fez isso até o olho sarar eu voltar a enxergar normalmente. Sendo a enfermeira prestativa que era, estava sempre pronta para me ajudar. Muitas vezes, no tempo em que ela ainda podia conduzir, Irmã Therese me levava aonde quer que precisássemos ir fazer nossas compras. Nunca me esquecerei da sua gentileza e vontade de me ajudar. Era como se fosse “minha irmã mais velha”, uma pessoa profundamente orante, calma e serena. “
– Irmã Clarita Frericks
“Pensando em Irmã Therese Martin lembro-me das suas reflexões sobre a teologia franciscana, principalmente sobre os textos maravilhosos do Bem-aventurado João Duns Scot, OFM. Ela dizia que toda a criação do mundo vem do amor de Deus para que Jesus, a Palavra Encarnada, tivesse “um lugar onde descansar a sua cabeça” (Mateus 8, 20). Em suas reflexões o que mais a inspirava eram os diversos aspectos do amor divino. “
– Irmã Adelaide Link
“A lembrança de Irmã Therese Martin, que guardo com o maior afeto, vem dos seus últimos dias, antes dela se entregar nos braços amorosos de Deus. Algumas semanas antes de sua partida, estava sentada na capela, muito quietinha, perto de mim. Quando Irmã Yvonne se aproximou de nós, distribuindo a Eucaristia, procurei me certificar que ela não estivesse adormecida, e toquei seu braço, dizendo: ‘Jesus está aqui.’ Therese olhou para mim com um grande sorriso nos lábios e me disse simplesmente: ‘Ah, muito obrigada!’ E estendeu sua a mão para receber Jesus na hóstia consagrada. Fiquei tão impressionada que, no final de sua vida, quando tudo o mais estava se apagando, ela continuava consciente de Deus, que era o centro de sua vida, o amor e a força que a alentaram durante todos esses anos.”
– Irmã Jo-Ann Jackowski
“Conheci Irmã Therese Martin em 1952 , quando fui trabalhar como enfermeira no departamento de obstetrícia do hospital da Congregação em Batesville, Indiana. Pouco tempo depois, foi ela quem me convidou para fazer uma caminhada espiritual franciscana, e assim conheci as Irmãs Franciscanas dos Pobres. Você esteve sempre presente em minha vida, Therese Martin, nos bons momentos como nos tempos difíceis, quando enfrentávamos desafios. Devo agradecer a você de maneira muito especial pela sua compaixão, pelo seu amor, ao longo dos 63 anos que compartilhamos. Sei que irei me sempre me lembrar da sua ‘oração pelos nossos segredos’. ”
– Irmã Mary Louise Sahm
“Quando convivi com Therese Martin na Comunidade Porciúncula, em Brooklyn, NY, nós duas tínhamos sido eleitas como membros do Conselho Congregacional. Sendo ela de Ohio e eu de Nova York, muitas vezes eu a acompanhava quando era preciso tomar o metrô, que é bastante complexo, para mostrar o caminho. Tudo era novo para ela e um grande desafio. Mas logo se acostumou com a cidade grande e conseguia tomar os transportes públicos sem precisar da minha companhia. Certo dia, ela me contou que tinha tido uma experiência que a havia encantado. Estava viajando sozinha de metrô, quando algumas pessoas de fora, que estavam meio perdidas, pediram a ela por indicações. Ficou toda orgulhosa e muito entusiasmada ao perceber que tinha conseguido dar direções corretamente! “
– Irmã Bernadette Sullivan
“Uma lembrança que me veio em mente ao pensar sobre Irmã Therese Martin, é de muitos anos atrás, quando ainda trabalhavávamos nos nossos hospitais. Irmã Therese me dizia que o que mais gostava era levar cada bebê recém-nascido até a sala de espera para mostrá-lo ao pai. Certa vez encontrei-a fazendo isso. Seu rosto estava iluminado, com grande alegria. “
– Irmã Mary Virginia Schreiner
“Foi Irmã Therese Martin quem cuidou das preparações para o nosso casamento, celebrado na Capela do Convento Santa Clara. Ficamos eternamente gratos a ela pela sua bondade, atenção aos detalhes e pela sua bênção. Somos muito felizes juntos e ela foi nossa madrinha como Afiliados da Congregação”.
– Afiliados Molly Talbot e Jim Traynor
“Irmã Therese Martin tinha um sorriso contagiante, olhos brilhantes e envolvia em sua aura de boas-vindas todos aqueles que ela encontrava. Era sempre um prazer estar em sua companhia, porque exalava uma energia positiva, cheia de vida. Sentirei muito a sua falta. “
– Irmã Bonnie Steinlage
“Irmã Therese Martin era uma mulher simples, de muita integridade moral e dignidade. Era uma gentil e prestativa. Expressava sempre uma profunda gratidão por todas as oportunidades que lhe eram oferecidas, espiritual, educacional e profissionalmente, bem como no convívio com as Irmãs da sua comunidade. Em um verdadeiro espírito franciscano, Therese mostrava seu reconhecimento a Deus por todos os seus sucessos, em todos os aspectos da vida. Ela amava a sua consagração religiosa e o nosso modo evangélico de viver. E era uma verdadeira amiga nos momentos de necessidade.”
– Irmã Karen Hartman
“Minhas lembranças de Irmã Terese Martin remontam ao tempo em que ingressei no noviciado. Sua padroeira era Santa Terezinha e sempre me lembro dela quando essa santa é mencionada. Ela escoheu o nome Martin não somente por ser o nome de seu pai, que ela muito amava, mas também por ser o sobrenome da Pequena Flor: Marie-Françoise Thérèse Martin. E me lembro da fidelidade com que vivia o seu compromisso com a “pequena via” de Santa Teresa, que fazia parte de tudo aquilo que Irmã Therese Martin realizava, com tanto amor”.
– Irmã Marie Clement
“Tenho muitas lembranças maravilhosas de Irmã Therese Martin. O que mais especialmente se destaca no meu coração era o seu profundo apreço pelas suas amizades. Cuidava com carinho de todas as pessoas que se tornaram suas amigas, ao longo dos anos. Ela costumava dizer que Jesus era seu amigo predileto e que, depois dele, amava as pessoas amigas, nele e com Ele.”
– Irmã Madonna Hoying
“Irmã Therese Martin trazia sempre um sorriso nos lábios, mesmo quando eu sabia que ela não estava se sentindo muito bem. Quando cheguei para trabalhar no Convento Santa Clara como Facilitadora das Vocações, ela veio logo me dizer que eu teria alguns desafios a enfrentar, mas que tudo seria gratificante. E me incentivava continuamente, me cumprimentava por todas as novas formas que eu encontrava para abordar a difícil tarefa de atrair vocações.
Quando meu escritório foi transferido para a sala de visitas do convento, Irmã Clarita veio me dizer que eu precisava de uma planta, e foi logo pedir um galhinho da videira de Irmã Therese Martin.
Com o passar do tempo, Irmã Therese Martin interessou-me pelo Relacionamento dos Afiliados e foi minha madrinha, quando fiz meu primeiro compromisso. A partir de então, nossa amizade floresceu. Ela me contava sobre a sua vida e que seu pai sempre lhe dizia que ela iria ser a “irmãzinha” de todos.
Irmã Therese gostava de recordar sua vida na pequena cidade de Mount Healthy, que fica próxima do lugar onde uma irmã de meu pai tinha vivido. Ela não conseguia se lembrar da minha família, naquela época, mas quando dei a ela de presente um livro sobre a história de Mount Healthy, ela ficou toda animada ao ver mencionado o nome da família Hessler e todas as lojas e nomes das famílias que ela havia conhecido.
Conversávamos sobre a escola de ensino médio Nossa Senhora dos Anjos, que eu tinha frequentado, e sobre sua ida para o Aspirantado do Convento Santa Clara, quando ela era ainda muito jovem e como as Aspirantes costumavam visitar aquela escola, para falar das vocações cristãs.
Partilhamos muitas histórias. Certo dia ela me disse que a planta que crescia no meu escritório tinha vindo originalmente de um arranjo floral dos funerais de seu pai, falecido em 1989. Por coincidência, minha mãe tinha morrido também em 1989. Como o meu escritório foi transferido para uma sala sem janelas, levei aquela videira para casa, onde se deu bem, por muito tempo. Mas depois, quase um ano atrás, a videira começou a dar sinais de estar murchando. Comentei sobre isso com vários colegas de trabalho, principalmente para obter conselhos sobre como cuidar de plantas. Tentei colocar aspirina na água e mudar o vaso para diferentes cômodos da casa para obter diferentes raios de sol. Mas uma semana antes da morte de Irmã Therese, a videira morreu. Senti então como se o espírito da planta, de Irmã Therese, do seu pai e da minha mãe tinham se unido no Paraíso. Irmã Therese Martin, eu a amo muito, você ficará como um tesouro no meu coração, para sempre. “
– Afiliada Ruthy Trusler
“Irmã Therese Martin era uma fiel seguidora de São Francisco de Assis e, pelas suas qualidades, ela será sempre lembrada com saudade.
F = Fiel
R = Reflexiva
A = Autêntica
N = Nitida
C = Compassiva
I = Inteligente
S = Sorridente
C = Competente
O = Organizada”
– Afiliada Laura Weinberger